As “falhas de comunicação” nas polícias
Não é raro que ao se detectar um problema
nas rotinas das polícias alguém tente minimizar a situação dizendo que
“só” ocorreu uma “falha na comunicação”. Um documento que deixou de ser
enviado, uma determinação não cumprida, uma providência não tomada:
basta pôr na conta da “falha de comunicação” que o problema está quase
justificado, podendo todos se resignar com isto que parece ser natural e
aceitável. Talvez este seja um peculiar sintoma de que as polícias
brasileiras carecem de uma remodelagem administrativa.
Com a dimensão do sistema de segurança pública brasileiro, onde estão inseridas as polícias civis e militares, as federais e as guardas municipais,
é quase trágico se descuidar da comunicação, principalmente se
consideramos os policiais como atores de mediação e negociação
comunitária. Como conceber que estas corporações não dialoguem, para
que, conjuntamente, a partir de informações e preocupações comuns,
cheguem a soluções mais eficientes dos problemas que enfrentam?
O pior é que esta barreira entre as polícias
é apenas o aspecto mais flagrante de um desleixo que, internamente,
parece ocorrer em boa parte das organizações policiais do Brasil. Tal
qual ilhas, unidades de uma mesma corporação acabam não dialogando,
deixando de padronizar procedimentos e evitando que um ambiente de
colaboração mútua seja consolidado. A “falha de comunicação” chega a se
inserir na cultura das polícias como uma desobediência velada: “se não
fiquei sabendo, não posso cumprir”, diz o policial da operacionalidade,
diz o comandante ou chefe de unidade.
Talvez, os governos pudessem utilizar sua
força política para fomentar a clareza comunicativa nas polícias,
evitando boatos e desordens. Mas as secretarias de comunicação estão por
demais aterefadas em fazer propaganda político-eleitoral, alheias a um
dos pontos nevrálgicos na gestão da atividade policial.
Da próxima vez que você ouvir que este ou
aquele problema ocorreu “só por falta de comunicação”, não minimize a
situação, pois é o mesmo que dizer que alguém “só” morreu porque sua
veia estourou. Se os vasos sanguíneos conduzem o oxigênio indispensável à
vida, a comunicação faz o mesmo com informações indispensáveis à
manutenção da eficiência institucional. Se comunicar é condição primeira
de qualquer organização – ou estamos falando de um conjunto de
entidades desconexas. Por isso, falhar na comunicação é destruir a
própria corporação. Algo grave e inaceitável.
Autor: Danillo Ferreira -
Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de
Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato:
abordagempolicial@gmail.com
gcmcláudio / laranjal paulista / sp
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