Os detalhes macabros da Bolsa Crack do
PT.
Ou: Em SP e no Brasil, ser viciado é moralmente superior a ser pobre. Ou:
Haddad consolida parte de sua herança maldita: o Centro foi entregue para
sempre a viciados e traficantes
Haddad: ele entregou para
sempre o Centro de
SP ao
consumo e ao tráfico de drogas.
As palavras são fortes, sim, mas,
infelizmente, as coisas precisam ser classificadas segundo aquilo que são. A
Prefeitura de São Paulo deu início a um programa que me parece moral,
filosófica e tecnicamente criminoso de suposto combate ao crack. Por que
“suposto”? De fato, a gestão do petista Fernando Haddad deu início, nesta
terça, ao financiamento público do consumo de crack. Agora é para valer: está
criada a “Bolsa Crack”. E, como sempre, os que trabalham, os que levam uma
“vida careta”, passarão a financiar o consumo dos viciados, que não terão nem
mesmo de se submeter a tratamento para receber salário, comida e moradia
gratuitas. A cidade de São Paulo se torna, assim, o paraíso dos traficantes e
continuará a ser o inferno dos dependentes — mas, agora, em fase de
estatização. É isto: a sede estatizante do PT chegou ao crack. O presidente do
Uruguai, José Mujica, é um doidivanas, mas é intelectualmente mais honesto.
A
primeira grande impostura
Vamos ver o que a Prefeitura decidiu fazer e analisar
as medidas no detalhe. OJornal Nacional levou ao ar nesta terça uma reportagem
bastante favorável ao programa da Prefeitura. Faz sentido. A emissora está
ligada a grupos e entidades que defendem a descriminação das drogas e se opõem
à internação de viciados. Já escrevi posts a respeito. Ok. As pessoas e as
emissoras são livres pra ter as suas crenças. Mas não estão livres dos fatos. O
texto do Jornal Nacional começou assim:
“A cidade de São Paulo começou, nesta
terça-feira (14), mais uma tentativa de combater o consumo de crack.
Dependentes químicos vão ganhar hospedagem, alimentação e emprego. Os barracos
de madeira e lona na região da Cracolândia começaram a ser desmontados durante
a tarde. Uma nova tentativa de acabar com a Cracolândia, que concentra
dependentes de crack no centro da cidade. A partir de agora, 300 vão receber
ajuda desse novo programa.”
Epa! Se o objetivo, como se anuncia acima, é
“acabar com a Cracolândia”, então é preciso apontar a primeira impostura: o
público volante da região é de… DUAS MIL PESSOAS, NÃO DE 300. Se o programa,
então, pretende extinguir a Cracolândia oferecendo emprego, comida e moradia a
300 viciados, cumpre perguntar o que pretende fazer com os outros… 1.700! Uma
coisa, pois, é a convicção, a escolha ideológica ou sei lá como chamar. E outra
pode ser a verdade. Assim, a primeira grande mentira do programa está no seu
alcance. Vai atingir apenas 15% dos frequentadores da área.
E que publico é
esse?
A segunda grande impostura
Justamente aquele que passou a construir
barracos em pleno logradouro público, no chamado quadrilátero da Luz, nas ruas
Helvétia e Dino Bueno e Alameda Cleveland. O leitor de outras cidades e estados
talvez não saiba. Com a chegada do PT ao poder na cidade e a determinação da
Prefeitura de não mais “reprimir” o consumo de drogas, os viciados voltaram a
ocupar hotéis caindo aos pedaços, casas abandonadas, praças e calçadas. E deram
início à construção de uma “favela do crack” nas ruas, como se pode ver na foto
abaixo.
favela da cracolândia
O programa que agora tem início, pois, busca
atender apenas esses viciados. Assim, está para ser provada a tese do Jornal
Nacional de que se trata de, como é mesmo?, “uma nova tentativa de acabar com a
Cracolândia”. Não! A Prefeitura está tentando é acabar — e ela logo vai voltar,
já digo por quê — com a favela do crack que surgiu logo nos primeiros meses da gestão
Fernando Haddad.
Não há programa nenhum para as centenas de pessoas que se
concentram na praça Sagrado Coração de Jesus. Aliás, até a Guarda Municipal
saiu de lá. Agora, aquela praça é dos viciados e traficantes como o céu é do
condor.
Ao Jornal Nacional, José de Filippi Junior, secretário municipal de
Saúde, afirmou, num tom quase carnavalesco: “O tratamento é pra que essa pessoa
reconstrua sua vida. Reconstrua a vida dela e possa ver que ela pode ser feliz.
Que possa buscar no trabalho, no emprego, a reestruturação dos amigos, da
família e a saúde. Acho que é um passo importante pra isso, buscar o seu
bem-estar integral”. É preciso ter estômago forte. De que TRATAMENTO este
senhor está falando?
A terceira grande impostura
E como é que se decidiu pôr
fim à favela? Ora, premiando com emprego, salário, comida e moradia gratuitas
aqueles que decidiram criá-la. Eles foram cadastrados e “convencidos” a deixar
os seus barracos. Em troca, terão de trabalhar apenas quatro horas por dia na
conservação de logradouros públicos, além de dedicar duas horas a cursos de
qualificação. Mas essa segunda parte não é obrigatória. Receberão, a cada dia,
R$ 15 — ao fim do mês, note-se, o benefício será maior do que a maioria do que
paga, per capita, o Bolsa Família: como sábados e domingos são remunerados,
serão R$ 450 mensais. Ser viciado, em São Paulo e no Brasil, é moralmente
superior a ser apenas pobre. Entenderam?
A coisa não para por aí. Os viciados
do Bolsa Crack de Fernando Haddad terão vantagens que os beneficiários do Bolsa
Família não têm: vão morar de graça em hotéis do Centro especialmente
preparados para isso, e terão direito a três refeições por dia. A forma de
pagamento é a “semanada”: a cada semana, o dinheiro será depositado numa conta,
a ser movimentada com um cartão.
Ao todo, o beneficiário terá de dedicar apenas
quatro horas do seu dia ao “programa” — que poderão ser seis caso faça o curso.
Se começar, sei lá, às 9h, já estará livre às 15h. Pra quê? É uma boa pergunta.
Ora, se os que decidiram criar a “favela do crack” receberam como recompensa
emprego, salário, casa e comida, o que impede outros de recorrerem aos mesmos
métodos para ter benefícios idênticos? Cada um deles custará R$ 1.086 à
Prefeitura. O programa do governo do Estado paga, sim, para os que participam
do programa Recomeço. Mas eles são obrigados a se tratar, e o pagamento é feito
à comunidade terapêutica, não ao viciado.
A quarta grande impostura
O aspecto
mais deletério — e eticamente asqueroso — do programa de Haddad é que os
viciados não serão obrigados a se tratar. No Jornal Nacional, Luciana Temer,
secretária de Assistência Social, dizia orgulhosa: “Foi absolutamente
voluntário. Quem quer participar, quem não quer participar. É um grande
desafio, mas é um caminho que estamos buscando”.
Isso tudo é música — macabra!
— para os ouvidos do que chamo de “militantes da cultura da droga”. No Brasil e
em várias partes do mundo, considera-se, no fim das contas, que consumir tais
substâncias é uma questão de escolha e de direito individual. Posso até flertar
com essa ideia; aceito discuti-la. O que me pergunto, então, é por que a
sociedade tem de arcar com as consequências e com os custos quando, digamos,
algo dá errado?
Se estamos tratando de uma escolha individual, que cada um faça
a sua! Mas não pode morar no logradouro público. Não pode receber um salário
por isso. Não pode comer de graça por isso. Não pode morar de graça por isso.
Se, no entanto, o estado tiver de arcar com as consequências, então ele tem o
direito de fazer exigências.
A quinta grande impostura
Pesquisem, conversem com
especialistas. Crack não é maconha. Crack não é cocaína. Crack não é, se
quiserem, cigarro, analgésico ou diazepínico, para citar drogas legais. A
possibilidade de um viciado deixar a droga sem ajuda médica — e o concurso de
alguns fármacos — é praticamente nula. Mais: não existe uma forma, digamos,
minimamente digna de conviver com o consumo da pedra. Ela rouba a vontade, os
valores, a ética, a moral, tudo.
Tenho lido bastante a respeito. Estudos
empíricos, especialmente ligados à área da psicologia comportamental, indicam
que a remuneração — em dinheiro mesmo — pode ter um papel importante no
tratamento de um viciado. Mas atenção! Para que a tática funcione, são
necessárias precondições que absolutamente não estão dadas no caso.
Terapeutas
e psiquiatras têm obtido respostas positivas quando passam a remunerar viciados
em troca da abstinência. Trabalha-se com a ideia da recompensa — a punição, no
caso, é só a cessação do benefício. A cada vez que cumpre etapas de uma
sequência de desafios — que incluirão, no seu devido tempo, a abstinência —, é
remunerado por isso. Se falha, então não recebe. Mas atenção! Isso se faz em
situações de absoluto controle. É preciso que o paciente seja rigorosamente
acompanhado. Para começo de conversa, ele tem de estar ancorado numa estrutura
familiar ou similar — uma comunidade terapêutica, por exemplo. Não pode
respirar um ambiente em que a droga é dominante.
O programa de Haddad fornecerá
a dependentes químicos que já romperam laços familiares e de amizade fora do
mundo das drogas conforto, comida e dinheiro SEM EXIGIR DELES NADA EM TROCA. De
resto, os consumidores da Cracolândia têm renda. Fazem bicos, trabalham como
catadores, praticam pequenos furtos… Há pessoas que chegam a consumir mais de
R$ 50 por dia em pedras. O dinheiro que Haddad vai lhes fornecer, assim, atuará
como uma renda suplementar. Não há um só especialista em dependência química
com um mínimo de seriedade que possa endossar isso.
A sexta grande impostura
Atentem agora para uma questão de lógica elementar. Se o programa não exige que
o beneficiário faça tratamento contra dependência química, pouco importa, pois,
para a Prefeitura se ele consome crack ou não, certo? Está, no fim das contas,
ganhando salário, moradia e comida porque resolveu criar uma favela no
logradouro público.
Estão dadas as condições para que os chamados movimentos de
sem-teto comecem a reconstruir a favela dentro de alguns dias — sejam viciados
ou não. Ora, se Haddad oferece benefícios sem nenhuma condicionalidade, por que
não atender, então, eventuais pessoas que, não tendo teto, também não consumam
drogas? O prefeito não seria perverso a ponto de exigir que as pessoas se
tornem viciadas para poder receber o agrado, certo?
A sétima grande impostura
Na
campanha eleitoral, o então candidato do PT prometeu um programa de fôlego
contra o crack, em parceria com a presidente Dilma Rousseff. Agora vemos o que
o homem tinha em mente. Não se enganem: essa história do tratamento volitivo,
do “procura ajuda quem quer”, é, no fim das contas, economia de dinheiro. É
EVIDENTE QUE É MUITO MAIS BARATO FINANCIAR O VÍCIO DO QUE FINANCIAR A CURA,
COMO TENTA FAZER O GOVERNO DO ESTADO.
Os vigaristas intelectuais no Brasil
chamam a essa porcaria de “política de redução de danos”. Pesquisem. A redução
de danos — embora eu não a aprove — é outra coisa. O programa da Prefeitura de
São Paulo é só uma forma de financiar os viciados para poder desmontar uma
favela que já havia se tornado símbolo da gestão Haddad. E que tende a voltar.
Concluindo
No projeto original, não sei se a medida será implementada, os
dependentes também teriam direito a… andar de graça nos ônibus — não estou
brincando. Vai ver é uma forma de tentar espalhar os viciados cidade afora, sei
lá… Já houve quem sugerisse que eles tivessem prioridade em programas de
moradia. A cultura de glorificação das drogas é capaz das piores bizarrices.
Não há prazo para os beneficiários deixarem os hotéis. Isso quer dizer o óbvio:
não sairão nunca mais. Um tipo de programa como esse, uma vez criado, fica para
sempre. E a demanda só irá aumentar. A tendência é que viciados de várias
outras partes do estado e do Brasil procurem a cidade de São Paulo. A lógica é
econômica. O Centro de São Paulo está para sempre condenado. Esqueçam qualquer
processo de revitalização. Nunca mais acontecerá. O PT entregou, para sempre,
uma área da cidade ao consumo e, por óbvio, ao tráfico de drogas. Com um ano de
gestão, Haddad já consolidou parte de sua herança maldita. Aguardem: ele ainda
tem muitas outras ideias na cabeça.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: Veja
GCM CLAUDIO / LARANJAL PAULISTA / SP
Os detalhes macabros da
Bolsa Crack do PT
Os detalhes macabros da Bolsa Crack do PT. Ou: Em SP e no Brasil, ser
viciado é moralmente superior a ser pobre. Ou: Haddad consolida parte de
sua herança maldita: o Centro foi entregue para sempre a viciados e
traficantes
Haddad: ele entregou para sempre o Centro de SP ao consumo e ao tráfico
de drogas
Haddad: ele entregou para sempre o Centro de SP ao consumo e ao tráfico
de drogas
As palavras são fortes, sim, mas, infelizmente, as coisas precisam ser
classificadas segundo aquilo que são. A Prefeitura de São Paulo deu
início a um programa que me parece moral, filosófica e tecnicamente
criminoso de suposto combate ao crack. Por que “suposto”? De fato, a
gestão do petista Fernando Haddad deu início, nesta terça, ao
financiamento público do consumo de crack. Agora é para valer: está
criada a “Bolsa Crack”. E, como sempre, os que trabalham, os que levam
uma “vida careta”, passarão a financiar o consumo dos viciados, que não
terão nem mesmo de se submeter a tratamento para receber salário, comida
e moradia gratuitas. A cidade de São Paulo se torna, assim, o paraíso
dos traficantes e continuará a ser o inferno dos dependentes — mas,
agora, em fase de estatização. É isto: a sede estatizante do PT chegou
ao crack. O presidente do Uruguai, José Mujica, é um doidivanas, mas é
intelectualmente mais honesto.
A primeira grande impostura
Vamos ver o que a Prefeitura decidiu fazer e analisar as medidas no
detalhe. OJornal Nacional levou ao ar nesta terça uma reportagem
bastante favorável ao programa da Prefeitura. Faz sentido. A emissora
está ligada a grupos e entidades que defendem a descriminação das drogas
e se opõem à internação de viciados. Já escrevi posts a respeito. Ok.
As pessoas e as emissoras são livres pra ter as suas crenças.
Mas não estão livres dos fatos. O texto do Jornal Nacional começou
assim:
“A cidade de São Paulo começou, nesta terça-feira (14), mais uma
tentativa de combater o consumo de crack. Dependentes químicos vão
ganhar hospedagem, alimentação e emprego.
Os barracos de madeira e lona na região da Cracolândia começaram a ser
desmontados durante a tarde. Uma nova tentativa de acabar com a
Cracolândia, que concentra dependentes de crack no centro da cidade. A
partir de agora, 300 vão receber ajuda desse novo programa.”
Epa! Se o objetivo, como se anuncia acima, é “acabar com a Cracolândia”,
então é preciso apontar a primeira impostura: o público volante da
região é de… DUAS MIL PESSOAS, NÃO DE 300. Se o programa, então,
pretende extinguir a Cracolândia oferecendo emprego, comida e moradia a
300 viciados, cumpre perguntar o que pretende fazer com os outros…
1.700! Uma coisa, pois, é a convicção, a escolha ideológica ou sei lá
como chamar. E outra pode ser a verdade. Assim, a primeira grande
mentira do programa está no seu alcance. Vai atingir apenas 15% dos
frequentadores da área.
E que publico é esse?
A segunda grande impostura
Justamente aquele que passou a construir barracos em pleno logradouro
público, no chamado quadrilátero da Luz, nas ruas Helvétia e Dino Bueno e
Alameda Cleveland. O leitor de outras cidades e estados talvez não
saiba. Com a chegada do PT ao poder na cidade e a determinação da
Prefeitura de não mais “reprimir” o consumo de drogas, os viciados
voltaram a ocupar hotéis caindo aos pedaços, casas abandonadas, praças e
calçadas. E deram início à construção de uma “favela do crack” nas
ruas, como se pode ver na foto abaixo.
favela da cracolândia
O programa que agora tem início, pois, busca atender apenas esses
viciados. Assim, está para ser provada a tese do Jornal Nacional de que
se trata de, como é mesmo?, “uma nova tentativa de acabar com a
Cracolândia”. Não! A Prefeitura está tentando é acabar — e ela logo vai
voltar, já digo por quê — com a favela do crack que surgiu logo nos
primeiros meses da gestão Fernando Haddad.
Não há programa nenhum para as centenas de pessoas que se concentram na
praça Sagrado Coração de Jesus. Aliás, até a Guarda Municipal saiu de
lá. Agora, aquela praça é dos viciados e traficantes como o céu é do
condor.
Ao Jornal Nacional, José de Filippi Junior, secretário municipal de
Saúde, afirmou, num tom quase carnavalesco: “O tratamento é pra que essa
pessoa reconstrua sua vida. Reconstrua a vida dela e possa ver que ela
pode ser feliz. Que possa buscar no trabalho, no emprego, a
reestruturação dos amigos, da família e a saúde. Acho que é um passo
importante pra isso, buscar o seu bem-estar integral”. É preciso ter
estômago forte. De que TRATAMENTO este senhor está falando?
A terceira grande impostura
E como é que se decidiu pôr fim à favela? Ora, premiando com emprego,
salário, comida e moradia gratuitas aqueles que decidiram criá-la. Eles
foram cadastrados e “convencidos” a deixar os seus barracos. Em troca,
terão de trabalhar apenas quatro horas por dia na conservação de
logradouros públicos, além de dedicar duas horas a cursos de
qualificação. Mas essa segunda parte não é obrigatória. Receberão, a
cada dia, R$ 15 — ao fim do mês, note-se, o benefício será maior do que a
maioria do que paga, per capita, o Bolsa Família: como sábados e
domingos são remunerados, serão R$ 450 mensais. Ser viciado, em São
Paulo e no Brasil, é moralmente superior a ser apenas pobre. Entenderam?
A coisa não para por aí. Os viciados do Bolsa Crack de Fernando Haddad
terão vantagens que os beneficiários do Bolsa Família não têm: vão morar
de graça em hotéis do Centro especialmente preparados para isso, e
terão direito a três refeições por dia. A forma de pagamento é a
“semanada”: a cada semana, o dinheiro será depositado numa conta, a ser
movimentada com um cartão.
Ao todo, o beneficiário terá de dedicar apenas quatro horas do seu dia
ao “programa” — que poderão ser seis caso faça o curso. Se começar, sei
lá, às 9h, já estará livre às 15h. Pra quê? É uma boa pergunta. Ora, se
os que decidiram criar a “favela do crack” receberam como recompensa
emprego, salário, casa e comida, o que impede outros de recorrerem aos
mesmos métodos para ter benefícios idênticos? Cada um deles custará R$
1.086 à Prefeitura. O programa do governo do Estado paga, sim, para os
que participam do programa Recomeço. Mas eles são obrigados a se tratar,
e o pagamento é feito à comunidade terapêutica, não ao viciado.
A quarta grande impostura
O aspecto mais deletério — e eticamente asqueroso — do programa de
Haddad é que os viciados não serão obrigados a se tratar. No Jornal
Nacional, Luciana Temer, secretária de Assistência Social, dizia
orgulhosa: “Foi absolutamente voluntário. Quem quer participar, quem não
quer participar. É um grande desafio, mas é um caminho que estamos
buscando”.
Isso tudo é música — macabra! — para os ouvidos do que chamo de
“militantes da cultura da droga”. No Brasil e em várias partes do mundo,
considera-se, no fim das contas, que consumir tais substâncias é uma
questão de escolha e de direito individual. Posso até flertar com essa
ideia; aceito discuti-la. O que me pergunto, então, é por que a
sociedade tem de arcar com as consequências e com os custos quando,
digamos, algo dá errado?
Se estamos tratando de uma escolha individual, que cada um faça a sua!
Mas não pode morar no logradouro público. Não pode receber um salário
por isso. Não pode comer de graça por isso. Não pode morar de graça por
isso. Se, no entanto, o estado tiver de arcar com as consequências,
então ele tem o direito de fazer exigências.
A quinta grande impostura
Pesquisem, conversem com especialistas. Crack não é maconha. Crack não é
cocaína. Crack não é, se quiserem, cigarro, analgésico ou diazepínico,
para citar drogas legais. A possibilidade de um viciado deixar a droga
sem ajuda médica — e o concurso de alguns fármacos — é praticamente
nula. Mais: não existe uma forma, digamos, minimamente digna de conviver
com o consumo da pedra. Ela rouba a vontade, os valores, a ética, a
moral, tudo.
Tenho lido bastante a respeito. Estudos empíricos, especialmente ligados
à área da psicologia comportamental, indicam que a remuneração — em
dinheiro mesmo — pode ter um papel importante no tratamento de um
viciado. Mas atenção! Para que a tática funcione, são necessárias
precondições que absolutamente não estão dadas no caso.
Terapeutas e psiquiatras têm obtido respostas positivas quando passam a
remunerar viciados em troca da abstinência. Trabalha-se com a ideia da
recompensa — a punição, no caso, é só a cessação do benefício. A cada
vez que cumpre etapas de uma sequência de desafios — que incluirão, no
seu devido tempo, a abstinência —, é remunerado por isso. Se falha,
então não recebe. Mas atenção! Isso se faz em situações de absoluto
controle. É preciso que o paciente seja rigorosamente acompanhado. Para
começo de conversa, ele tem de estar ancorado numa estrutura familiar ou
similar — uma comunidade terapêutica, por exemplo. Não pode respirar um
ambiente em que a droga é dominante.
O programa de Haddad fornecerá a dependentes químicos que já romperam
laços familiares e de amizade fora do mundo das drogas conforto, comida e
dinheiro SEM EXIGIR DELES NADA EM TROCA. De resto, os consumidores da
Cracolândia têm renda. Fazem bicos, trabalham como catadores, praticam
pequenos furtos… Há pessoas que chegam a consumir mais de R$ 50 por dia
em pedras. O dinheiro que Haddad vai lhes fornecer, assim, atuará como
uma renda suplementar. Não há um só especialista em dependência química
com um mínimo de seriedade que possa endossar isso.
A sexta grande impostura
Atentem agora para uma questão de lógica elementar. Se o programa não
exige que o beneficiário faça tratamento contra dependência química,
pouco importa, pois, para a Prefeitura se ele consome crack ou não,
certo? Está, no fim das contas, ganhando salário, moradia e comida
porque resolveu criar uma favela no logradouro público.
Estão dadas as condições para que os chamados movimentos de sem-teto
comecem a reconstruir a favela dentro de alguns dias — sejam viciados ou
não. Ora, se Haddad oferece benefícios sem nenhuma condicionalidade,
por que não atender, então, eventuais pessoas que, não tendo teto,
também não consumam drogas? O prefeito não seria perverso a ponto de
exigir que as pessoas se tornem viciadas para poder receber o agrado,
certo?
A sétima grande impostura
Na campanha eleitoral, o então candidato do PT prometeu um programa de
fôlego contra o crack, em parceria com a presidente Dilma Rousseff.
Agora vemos o que o homem tinha em mente. Não se enganem: essa história
do tratamento volitivo, do “procura ajuda quem quer”, é, no fim das
contas, economia de dinheiro. É EVIDENTE QUE É MUITO MAIS BARATO
FINANCIAR O VÍCIO DO QUE FINANCIAR A CURA, COMO TENTA FAZER O GOVERNO DO
ESTADO.
Os vigaristas intelectuais no Brasil chamam a essa porcaria de “política
de redução de danos”. Pesquisem. A redução de danos — embora eu não a
aprove — é outra coisa. O programa da Prefeitura de São Paulo é só uma
forma de financiar os viciados para poder desmontar uma favela que já
havia se tornado símbolo da gestão Haddad. E que tende a voltar.
Concluindo
No projeto original, não sei se a medida será implementada, os
dependentes também teriam direito a… andar de graça nos ônibus — não
estou brincando. Vai ver é uma forma de tentar espalhar os viciados
cidade afora, sei lá… Já houve quem sugerisse que eles tivessem
prioridade em programas de moradia. A cultura de glorificação das drogas
é capaz das piores bizarrices.
Não há prazo para os beneficiários deixarem os hotéis. Isso quer dizer o
óbvio: não sairão nunca mais. Um tipo de programa como esse, uma vez
criado, fica para sempre. E a demanda só irá aumentar. A tendência é que
viciados de várias outras partes do estado e do Brasil procurem a
cidade de São Paulo. A lógica é econômica. O Centro de São Paulo está
para sempre condenado. Esqueçam qualquer processo de revitalização.
Nunca mais acontecerá. O PT entregou, para sempre, uma área da cidade ao
consumo e, por óbvio, ao tráfico de drogas.
Com um ano de gestão, Haddad já consolidou parte de sua herança maldita.
Aguardem: ele ainda tem muitas outras ideias na cabeça.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário