sexta-feira, 29 de março de 2013

Um tiro no pé de 60 milhões

Aécio Neves - Um tiro no pé de 60 milhões.

Por Fabricio Rebelo* 

O senador Aécio Neves, indiscutível postulante à Presidência da República, demonstrou na última segunda-feira, em sua coluna na Folha de São Paulo, uma inabilidade política gritante, fazendo seus leitores - e eleitores - presumirem o início de uma nova campanha fadada ao fracasso, especialidade de seu partido, o PSDB, nos últimos dez anos.

No momento em que os especialistas em segurança pública debatem os dados do Mapa da Violência 2013, que estampa o completo fracasso das políticas de desarmamento adotadas pelo país e demonstra um aumento das taxas de homicídio em pelo menos 6%, mesmo com a redução de 90% no comércio de armas e o recolhimento de mais de 600 mil delas, o senador também resolveu comentar o assunto. Porém, na contramão de absolutamente todos os dados técnicos e virando as costas para a realidade, enveredou pelo caminho de radicalizar nas iniciativas desarmamentistas.

Para o senador, o desarmamento voluntário não seria o suficiente, sinalizando-se a necessidade de um modelo coercitivo, talvez confiscatório, bem na linha do que seu guru político, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tentou implementar no ano 2000, ao simplesmente, e por decreto, proibir o registro de armas no Brasil - medida que logo foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal.

Para piorar, o senador, novamente demonstrando nenhum conhecimento do tema, repetiu uma cantilena falaciosa das entidades desarmamentistas brasileiras, aquelas que, também a exemplo de FHC, são favoráveis à liberação das drogas no país e por ela tanto lutam: a de que as armas com que se comete crimes têm origem interna. 

A informação é infundada. 

Primeiro, falar em origem de armas em um país em que só 8% dos homicídios são esclarecidos só tem um nome: especulação. Segundo, não há no país absolutamente nenhum estudo científico oficial sobre a origem do armamento que abastece o crime, sendo as supostas pesquisas a que alude o senador um mero estudo tendencioso de uma organização não governamental com sede no Rio de Janeiro e que, num universo de 115 mil armas apreendidas em uma década, escolheu criteriosamente 10 mil delas, rastreáveis, buscando sua origem. Terceiro, nas apreensões de armas com bandidos predominam as de calibre restrito (nunca comercializadas entre os cidadãos) e de origem estrangeira, o que se comprova com o simples acompanhamento à seção policial dos jornais.

São fatos que afloram cada vez mais de modo incontestável e que demonstram que a política de desarmamento é um enorme equívoco. Aliás, sua ineficácia hoje já é reconhecida até por quem inventou essa ideia, a ONU.

Por suas origens político-partidárias, realmente não se esperava que o senador Aécio Neves entendesse muito de segurança pública ou se preocupasse com ela. O que surpreende é uma manifestação tão grande de inabilidade política. Sobre um tema em que 60 milhões de eleitores brasileiros já se manifestaram em um sentido e, hoje, todos questionam fortemente o desrespeito à opinião popular e os efeitos negativos disso resultantes, ele parte em defesa da opção derrotada. Um enorme tiro no pé, no caso, em 60 milhões deles.


Fabricio Rebelo é bacharel em direito, pesquisador em segurança pública, coordenador do Movimento Viva Brasil na região Nordeste e colaborador do blog @DefesaArmada

** Este texto pode ser livremente reproduzido, desde que na íntegra e com indicação do autor.

Fonte 1:http://defesaarmada.blogspot.com.br/
Fonte 2: Blog Amigos da Guarda Civil 

GCM CLÁUDIO / LARANJAL PAULISTA / SP

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