Mitos Sobre o Controle de Armas
Escrito por Thomas Sowell
A Professora Joyce Lee Malcolm do Bentley College merece algum tipo de
prêmio especial por assumir a tarefa de dizer coisas sensatas sobre um
tópico onde o besteirol está profundamente enraizado e fortemente
dogmático. No seu recente livro, “Armas e Violência” (n.t.: “Guns and
Violence”), a professora Malcolm examina a história das armas, das leis
antiarmas e dos crimes violentos na Inglaterra. O que torna isso mais do
que um exercício de história é a sua relevância para as atuais
controvérsias sobre as leis antiarmas nos EUA.
|
Os antiarmas fanáticos adoram fazer comparações internacionais altamente
seletivas sobre a posse de armas e os índices de homicídio. Mas Joyce
Lee Malcolm chama a atenção para os perigos destas comparações. Por
exemplo, o índice de homicídios na cidade de Nova Iorque foi por mais de
dois séculos cinco vezes superior ao índice de Londres--e durante a
maior parte daquele período, nenhuma das duas tinha qualquer tipo de
leis antiarmas.
Em 1911, o estado de Nova Iorque instituiu uma das mais severas leis
antiarmas dos EUA, enquanto que leis antiarmas mais sérias não
apareceram na Inglaterra por quase dez anos. Ainda assim, Nova Iorque
continuou a ter um índice de homicídios bem superior ao índice de
Londres.
Se estamos falando sério sobre o papel das armas e das leis antiarmas
como fatores nos índices de violência nos diferentes países, precisamos
então fazer o que a professora de história Malcolm faz: examinar a
história das armas e da violência. Na Inglaterra, como ela chama
atenção, durante muitos séculos “a taxa de crimes violentos continuou a
diminuir de modo marcante durante o período em que a disponibilidade de
armas começou a aumentar.”
A Declaração dos Direitos inglesa de 1688 deixou claro que o direito
individual à posse de armas é um direito individual que independe do
direito coletivo das milícias. Armas estavam amplamente disponíveis
tanto para os ingleses quanto para os americanos até após o inicio do
século vinte.
As leis antiarmas inglesas também não foram uma resposta a uma crise de
homicídios. Durante um período de três anos perto do final do século
dezenove “houve somente 59 fatalidades causadas por armas curtas numa
população de 30 milhões de indivíduos,” de acordo com a professora
Malcolm. “Destes, 19 foram acidentes, 35 suicídios e somente 3 foram
homicídios--uma média de um (homicídio) por ano.”
O crescimento do estado intervencionista inglês no início do século
vinte incluiu esforços para restringir a posse de armas. Até a primeira
guerra mundial, leis antiarmas começaram a restringir a posse de armas.
Após a segunda guerra essas restrições cresceram em severidade, e
eventualmente desarmaram a população inglesa--ou melhor, a população de
bem inglesa.
Foi durante este período de severas restrições à posse de armas que a
taxa de crimes em geral, e particularmente a de homicídios, começou a
crescer na Inglaterra. “Enquanto o número de armas legais diminuiu, o
número de crimes com armas cresceu”, diz a professora Malcolm.
Em 1954 houve somente uma dúzia de assaltos à mão armada em Londres, mas
pelos anos 90 este número cresceu cem vezes. Na Inglaterra, assim como
nos EUA, perseguições drásticas à posse de armas por pessoas de bem
foram acompanhadas por mais suavidade no tratamento dos criminosos. Nos
dois países isto acabou sendo a fórmula para um desastre.
Enquanto que a Inglaterra ainda não alcançou o índice de homicídios
americano, ela já ultrapassou os EUA nos índices de roubos e furtos.
Além disso, em anos recentes o índice de homicídios na Inglaterra tem
crescido mesmo sob leis antiarmas ainda mais severas, enquanto que o
índice de homicídios americano vem diminuindo enquanto mais e mais
estados da união passam a permitir o porte (n.t.: o autor aqui se refere
ao ‘porte’ mesmo, i.e., transporte da arma na rua, em geral
ocultada)--e passaram a trancafiar mais criminosos.
Em ambos os países, os fatos não tem qualquer efeito sobre os dogmas do
fanático antiarmas. O fato de que a maioria das armas usadas para matar
pessoas na Inglaterra não foram compradas legalmente não teve qualquer
efeito na sua fé nas leis antiarmas de lá, assim como o fato de que a
arma do sniper de Washington D.C. não era legal não afetou sua fé nas
leis antiarmas daqui.
Na Inglaterra, assim como nos EUA, crimes sensacionais cometidos com
armas foram usados politicamente para promover o combate a posse de
armas por cidadãos de bem, sem se falar nada sobre os criminosos.
Americanos fanáticos pela lei Brady não dizem nada sobre o fato de que o
homem que atirou no James Brady e que tentou matar o presidente Ronald
Reagan já está andando nas ruas sob licença.
***
Falar sobre fatos com os fanáticos antiarmas só vai irritá-los. Mas o
resto de nós precisa saber os fatos. Mais que isso, precisamos saber que
muito daquilo que os antiarmas chamam de “fatos” não agüenta um exame
minucioso.
O grande dogma dos antiarmas é que lugares com as mais severas leis
antiarmas têm índices mais baixos de homicídio e de outros crimes
cometidos com armas. Como eles provam isso? Simples. Eles fazem
comparações de lugares onde isto acontece e ignoram todas as comparações
onde o oposto ocorre.
Fanáticos antiarmas comparam os EUA com a Inglaterra para mostrar que o
índices de homicídios são menores em lugares onde as restrições a posse
de armas são mais severas. Mas você poderia também comparar a Suíça com a
Alemanha, a Suíça tendo um índice de homicídio menor do que o índice
alemão apesar de ter, percentualmente, uma população três vezes mais
armada. Outros países onde, percentualmente, a população é altamente
armada e o índice de homicídios é baixo são Israel, Nova Zelândia e
Finlândia.
Dentro dos EUA, as zonas rurais têm populações bem armadas e índices de
homicídios baixos; a população branca está mais bem armada
percentualmente do que a população negra e tem um índice menor de
homicídios. No país (n.t.: EUA) como um todo, o percentual da população
que possui armas curtas dobrou próximo ao final do século vinte enquanto
que o índice de homicídios caiu. Mas tais fatos não são mencionados
pelos fanáticos antiarmas nem pela mídia esquerdista.
Outro dogma entre os que apóiam leis antiarmas é que a posse de uma arma
em casa, para auto-defesa, é desnecessária e só aumenta suas chances do
dono se ferir ou morrer. Sua melhor saída, de acordo com este dogma, é
não oferecer qualquer resistência ao invasor.
Pesquisas acadêmicas dizem o contrário. Pessoas que não resistiram foram
feridas com o dobro da freqüência daquelas que resistiram com uma arma.
Aquelas que resistiram sem uma arma obviamente são as que foram feridas
com maior freqüência.
Tais fatos são simplesmente ignorados pelos fanáticos antiarmas. Eles
preferem citar um estudo publicado há alguns anos atrás no New England
Journal of Medicine que já foi demolido por vários pesquisadores. De
acordo com este desacreditado estudo, pessoas com armas em casa tinham
maiores chances de serem mortas.
Como chegaram a esta conclusão? Eles pegaram as pessoas assassinadas em
casa, averiguaram quantas (percentualmente) tinham armas em casa, e
então fizeram uma comparação com pessoas que não foram mortas em casa.
Usando a mesma lógica você poderia demonstrar que pessoas que contratam
guarda-costas aumentam as chances de serem assassinadas. Obviamente
pessoas que contratam guarda-costas já se sentem ameaçadas, mas isso
significa que os guarda-costas são a razão da ameaça?
Raciocínio similarmente ilógico já foi usado contando quantos invasores
foram mortos por residentes armados e então comparando este número com o
número de residentes mortos pela arma mantida em casa.
A maioria dos usos de armas em auto-defesa--tanto em casas quanto nas
ruas--não envolve um disparo. Quando a potencial vítima puxa a arma, o
bandido em geral tem cérebro o suficiente para desistir do crime. Mas as
vidas salvas desta maneira não são contadas.
Pessoas mortas em casa por membros da família são extremamente atípicas.
A vasta maioria destas vítimas já chamou a polícia em casa devido à
violência doméstica, e mais da metade chamou a polícia várias vezes. Os
assassinos nestes casos não são pessoas normais que se irritaram quando
uma arma estava por perto.
Também na maioria dos casos não são “crianças” mortas à bala meros
nenéns que encontraram uma arma municiada. A maioria destas “crianças”
são adolescentes membros de gangues que se matam deliberadamente.
De fato algumas crianças pequenas morrem acidentalmente pelo manuseio de
uma arma em casa--mas este número é menor do que o número de crianças
que se afogam em banheiras. Alguém está propondo a proibição de
banheiras? Além disso, durante os anos o número de acidentes fatais com
armas caiu enquanto que o estoque de armas aumentou em algumas dezenas
de milhões de armas (n.t.: nos EUA).
A maioria dos argumentos dos antiarmas são castelos de areia.
***
A maioria das pessoas a favor de leis antiarmas apóiam tais leis porque
acreditam que elas (as leis) vão reduzir o número de mortes cometidas
com armas de fogo. Tais pessoas não são o problema. Suas opiniões podem
mudar quando elas compreendem que os fatos são bem diferentes daquilo
que elas imaginavam ou foram levadas a imaginar.
O problema é com tipos diferentes de pessoas, em geral em posições de
liderança, cujo apoio a leis antiarmas é forte o suficiente para se
sobrepor aos fatos. Quando o estudo empírico de John Lott sobre os
efeitos das leis antiarmas mostrou que a posse de armas tende na média a
diminuir a criminalidade, em particular os homicídios, ele ofereceu uma
cópia do estudo a um membro de grupo pró leis antiarmas, mas ela se
recusou a ver o estudo.
Mais tarde, quando o estudo foi publico em um livro chamado “Mais Armas,
Menos Crimes” (n.t.: “More Guns, Less Crime”), a ABC News entrou em
contato com esta mesma mulher para saber seus comentários e ela
descreveu o estudo como “defeituoso”. Quando Lott ligou para ela para
perguntar como ela poderia descrever o estudo como defeituoso sem tê-lo
lido, ela bateu o telefone na cara dele.
Claramente os fatos não são cruciais para esta defensora das leis
antiarmas--ou para muitos outros fanáticos. Nem pode a lista de pessoas
pró e contra leis antiarmas ser explicada pelos fatos igualmente
disponíveis para pessoas em todas as posições do espectro ideológico,
afinal os esquerdistas lutam por leis antiarmas mais restritas e os
liberais (n.t.: “liberais” aqui no sentido clássico, não no atual
sentido americano) resistem.
Enquanto o estudo de John Lott é talvez o mais conhecido mostrando que a
maior disponibilidade de armas diminui a criminalidade, outros estudos
com conclusões semelhantes são “À Queima-Roupa” (n.t.: “Pointblank”),
por Gary Kleck, e o mais recente livro “Armas e Violência” (n.t.: “Guns
and Violence”), por Joyce Lee Malcolm.
E os estudos do outro lado do debate? Dois amplamente divulgados são um
artigo que saiu no New England Journal of Medicine em 1993 e um livro
publicado em 2000 chamado “Armando a América” (n.t.: “Arming America"),
sobre a história da posse de armas neste país (EUA).
O artigo do jornal acadêmico de medicina alegava que armas em casa
aumentam as chances de violência e morte. Isto foi baseado numa
comparação entre pessoas que foram mortas em casa com uma amostra de
pessoas similares na população. Aqueles que foram mortos em casa tinham
armas em casa com maior freqüência.
O que é realmente estranho sobre este artigo num jornal de medicina é
que ele segue a mesma linha de raciocínio dos que cometem a falácia de
julgar hospitais pelo índice de óbitos. As pessoas que vão para os
hospitais estão sob maior risco de morte do que as pessoas que não vão.
Isto torna os hospitais perigosos? Ou mostra que as pessoas que vão para
os hospitais já estão sob maior risco?
E de fato, o índice de óbitos num dos melhores hospitais do mundo pode
ser maior do que o índice de um hospital local porque as pessoas com
problemas médicos mais complicados, em geral, procuram hospitais com os
melhores especialistas e os melhores equipamentos.
Da mesma forma que seria falacioso assumir que pessoas que procuram
diferentes hospitais estão sob o mesmo risco de saúde, é falacioso
também assumir que as pessoas que decidiram manter uma arma em casa
estão inicialmente sob tanto risco de vida quanto as pessoas que
decidiram não manter uma arma. Algumas eram criminosos que foram mortos
pela polícia. Uma comparação de coisas diferentes não prova nada.
O mais recente livro antiarmas, por Michael Bellesiles da Emory
University, recebeu abundantes elogios em órgãos da intelligentsia
esquerdista como o jornal New York Times e o New York Review of Books,
além de um prestigioso prêmio de história. Aí alguns pesquisadores
começaram a verificar as evidências do autor.
O resultado final foi a renúncia do professor Bellesiles após uma
investigação da sua pesquisa levantar dúvidas quanto a sua “integridade
acadêmica”. Mas é pouco provável que isto barre a citação desta pesquisa
pelos antiarmas. (n.t.: O prêmio de história também foi revogado e o
livro não foi mais impresso.)
Fatos não são o ponto central para os fanáticos antiarmas, que
tipicamente compartilham a visão esquerdista do mundo na qual sua
sabedoria e virtude superiores precisam ser impostas sobre os outros,
seja em relação às armas, ao meio ambiente ou a outros assuntos.
Quando John Lott perguntou à ativista antiarmas se ela gostaria de dar
uma olhada nos fatos reunidos pelo seu estudo, ele deve ter imaginado
que a questão era meramente a busca da melhor política pública. Mas o
que estava em jogo era toda uma visão da sociedade e o sentido de vida
da ativista. Não foi à toa que ela não quis correr o risco de encarar os
fatos.
Publicado originalmente no site Townhall.com
Fonte: Amigos da Guarda Civil
GCM CLAUDIO / LARANJAL PAULISTA / SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário