Trinta reais do bico. Trinta reais do traficante.
Se por um lado é preciso ter cautela e faro para as informações que nos
chegam, nem sempre oriundas de fontes confiáveis, por outro é prudente
estar atento às possibilidades de eclosão de crises locais, alinhadas ou
não com os crimes que ocorrem em outros estados. Por imitação,
delinquentes podem se aventurar em empreitadas semelhantes, mesmo que se
diga com algum grau de certeza que um movimento criminoso regional ou
nacional não seria possível (tese que pode ser colocada em questão com
as capacidades atuais de comunicação, por exemplo).
O fato é que esta insurgência do crime está prevista na gama de
desdobramentos da atividade policial: quem cumpre a lei contra alguém
tende a desagradar, e nem sempre se dobra à ação policial legítima.
Assim, todos nós, policiais, sabemos que determinados ambientes,
posturas e comportamentos são arriscados para quem atua desagradando
aqueles que se encorajam contra a lei.
Aqui cabe uma ressalva, que se refere aos diferentes matizes que este
cenário aparentemente simples pode assumir. Nem sempre policiais mortos
são policiais que cumpriam a lei. Nem sempre policiais mortos morreram
por sua condição de policial. Esta confusão, porém, não anula o óbvio e
absurdo extermínio de policiais que está ocorrendo em algumas partes do
país – simplesmente por ser policial.
Se os policiais têm consciência de que represálias à sua ação legal
podem ocorrer durante sua carreira, sendo esta até uma “naturalidade
infeliz” decorrente da profissão, os gestores das polícias e os
governantes não podem encarar este aspecto como desprezível. É preciso
dar demonstrações claras à tropa de que há apoio e resguardo à sua vida.
Sem descuidar de fatores centrais na prevenção à morte de policiais,
que vai desde a valorização salarial, garantindo moradia e transporte
digno, isentos de áreas conflagradas e exposição a ‘bicos’ precários,
até a limpeza ética das polícias, já que policiais envolvidos com o
crime organizado podem ser estopins de crises como a que se vive
atualmente.
Há policiais no Brasil que vigiam particularmente ruas por R$30 reais a
noite. Há policiais no Brasil que roubam R$30 reais de traficantes para
não prendê-los. Ambos são alvo do crime que tenta atacar policiais. Por
motivos distintos.
Autor: Danillo Ferreira -
Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de
Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato:
abordagempolicial@gmail.com
Fonte: Blog Abordagem Policial
GCM CLAUDIO / LARANJAL PAULISTA / SP
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